Combinadas, sobretaxas dos Estados Unidos afetam 77,8% das exportações brasileiras
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- 12 de ago.
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Fonte: Confederação Nacional da Indústria, análise de politica comercial N17 08/2025

A tarifa adicional de 40% impacta somente 45,7% da pauta exportadora brasileira, enquanto 22,2% do valor exportado permanece isento de qualquer taxação extra.
Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação econômica sólida e estratégica, baseada em comércio, investimentos e integração produtiva. Essa parceria, construída ao longo de 200 anos, é caracterizada por um fluxo comercial expressivo e um superávit persistente para os EUA, tanto em bens quanto em serviços.
A retomada da política comercial “America First”, no entanto, desencadeou diversas medidas comerciais que impõem custos adicionais às importações norte-americanas de diversos países. No caso do Brasil, até 6 de agosto de 2025, o governo norte-americano impôs duas sobretaxas horizontais, de 10% e de 40%, e três sobretaxas setoriais para produtos de aço e alumínio, de cobre e para veículos e autopeças. Vale destacar que a tarifa adicional de 40% é a única aplicada exclusivamente ao Brasil.
Para avaliar o impacto nas exportações brasileiras do conjunto de medidas impostas pelos Estados Unidos, a CNI elaborou esta análise considerando a classificação de produtos norte-americana utilizada nas listas de itens submetidos às sobretaxas. Esse levantamento permite identificar com maior precisão os produtos sujeitos ou isentos à cada medida comercial.
A análise demonstrou que 77,8% das exportações do Brasil para os Estados Unidos enfrentam alguma sobretaxa. Com relação à tarifa adicional de 40%, anunciada em 30 de julho, 45,7% da pauta exportadora foi afetada, em sua maioria, de forma cumulativa com a tarifa adicional de 10%. Além disso, 22,2% das exportações não têm aplicação de sobretaxa, especialmente produtos da Indústria Extrativa e nos setores de Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis e de Metalurgia.

1. Destaques das relações econômicas entre Brasil e EUA
Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação econômica sólida e estratégica, baseada em comércio, investimentos e integração produtiva. Essa parceria, construída ao longo de 200 anos, é caracterizada por um fluxo comercial expressivo e um superávit persistente para os EUA, tanto em bens quanto em serviços.

As relações econômicas com os Estados Unidos são estratégicas para o Brasil, especialmente para a indústria brasileira, e têm importante impacto na atividade econômica do país.

Essa relação tem um papel importante no crescimento econômico dos dois países, ao gerar empregos e fortalecer a cooperação industrial e tecnológica.

Comércio Bilateral
Os Estados Unidos mantêm superávit comercial com o Brasil por mais de 15 anos. Somente na última década, o superávit norte-americano foi de US$ 91,6 bilhões apenas no comércio de bens. Entre as principais economias do mundo, o Brasil é um dos poucos países com superávit a favor dos EUA. O superávit comercial americano concentra-se majoritariamente na indústria de transformação. Apenas no ano de 2024, os EUA registraram saldo comercial positivo de US$ 14,6 bilhões nesse setor produtivo, frente ao déficit na agropecuária e na indústria extrativa de US$ 7,8 bilhões.
Quando se inclui o comércio de serviços, o valor do saldo positivo salta para US$ 256,9 bilhões na década.

2. Quais medidas comerciais dos EUA afetam as exportações brasileiras?
Com a retomada da política comercial “America First”, o governo dos EUA aplicaram diversas medidas comerciais que impõem custos adicionais às importações norte-americanas de todas as origens . No caso do Brasil, o governo norte-americano impôs a tarifa adicional de 10% por meio da Ordem Executiva 14.257, em vigor desde 9 de abril, e a tarifa adicional de 40% através da Ordem Executiva 14.323, com vigência a partir de 6 de agosto. Essas tarifas podem ser aplicadas de forma cumulativa, resultando em uma taxação combinada de 50% sobre determinados produtos, levando em conta a lista de isenção prevista em cada Ordem Executiva.
Além dessas medidas horizontais, os EUA vêm ampliando o uso da Seção 232 do Trade Expansion Act para impor medidas setoriais. Até 6 de agosto, já foram estabelecidas sobretaxas para produtos de aço e alumínio (50%), de cobre (50%) e para veículos e autopeças (25%). Produtos submetidos à Seção 232 não tem incidência cumulativa das tarifas adicionais. Além dessas medidas setoriais em vigor, há várias investigações em curso que podem resultar na aplicação de novas sobretaxas a setores específicos. Estão sendo investigados produtos dos setores de aeronaves e motores, caminhões, madeira, minerais críticos, produtos farmacêuticos, semicondutores, silício policristalino e sistemas aéreos não tripulados.

3. Impacto nas exportações brasileiras do conjunto de medidas comerciais dos EUA
22,2% das exportações brasileiras estão isentas das sobretaxas.
Considerando o conjunto das medidas comerciais dos EUA, 22% da pauta exportadora do Brasil para os Estados Unidos não deve ser afetada pelas tarifas adicionais de 10% e de 40%, nem pelas medidas setoriais já aplicadas na Seção 232. Esse percentual corresponde a 82 produtos exportados, que somaram US$ 9,4 bilhões em 2024.
As exportações isentas concentram-se principalmente na indústria extrativa, que responde por 68,9% dessas exportações, com destaque para petróleo leve e pesado. Na indústria de transformação, o setor de Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis representa 21,5% do valor isento, especialmente outros combustíveis automotivos e óleos combustíveis pesados (sem biodiesel). O restante do valor exportado isento concentra-se nos setores de Metalurgia (8,5%) e de Madeira (1,0%).
Aplicação cumulativa das tarifas adicionais de 10% e 40% atingem 41,4% da pauta exportadora.
Parte significativa da pauta exportadora brasileira que pode ser impactada cumulativamente pela tarifa adicional de 10% e pela nova sobretaxa de 40%. Em 2024, essa parte da pauta somou US$ 17,5 bilhões, o equivalente a 41,4% do total exportado, envolvendo 7.691 produtos.
Principal segmento exportador ao mercado norte-americano, a indústria de transformação responde por 69,9% desse valor, com 7.184 produtos afetados pelas tarifas combinadas, que totalizaram US$ 12,3 bilhões em 2024. Em termos de setores, destacam-se com maior número de produtos exportados afetados pela sobretaxa de 50% seriam:
Vestuário e acessórios (14,6%), Máquinas e equipamentos (11,2%), Produtos têxteis (10,4%), Alimentos (9,0%), Químicos (8,7%) e Couro e calçados (5,7%).
Vale destacar que, além dos 41,4% da pauta exportadora brasileira sujeitos à tarifa combinada de 50%, outros 9,3% estão submetidos a uma sobretaxa de 50% no âmbito das medidas setoriais da Seção 232, aplicadas a produtos de aço e alumínio e de cobre. Com isso, 50,7% das exportações brasileiras para os Estados Unidos estariam sujeitas a uma tarifa adicional de 50%.
6,9% das exportações podem ser isentas da sobretaxa de 40% A Ordem Executiva 14.323, que institui a tarifa adicional de 40%
A Ordem Executiva 14.323, que, inclui uma lista de produtos com isenção condicionada à comprovação de uso no setor de aviação civil. Em 2024, nesse recorte, as exportações brasileiras somaram US$ 2,9 bilhões, o que representa 6,9% da pauta exportadora.
O setor de Outros equipamentos de transporte exportou 41 produtos que totalizaram US$ 1,9 bilhão em 2024. Em termos de produtos, Aviões não militares entre 4,5 e 15 toneladas e acima de 15 toneladas concentraram 52,3% valor passível de isenção. Esse recorte da pauta exportadora têm maior probabilidade de se enquadrar na destinação para aviação civil.
A aplicação da isenção prevista para a aviação civil pode alterar o alcance efetivo da tarifa adicional de 40% sobre 601 produtos exportados. Caso a exceção seja aceita, 577 deles ficariam sujeitos apenas à tarifa de 10% anunciados em abril, enquanto 4 estariam isentos de ambas. Os setores com maior número de produtos nessa condição seriam: Máquinas e equipamentos (34,9%), Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (26,5%), Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (17,7%), Produtos de borracha e de material plástico (7,2%) e Outros equipamentos de transporte (7,1%).
Medidas setoriais da Seção 232 já afetam 12,3% da pauta exportadora.
A Seção 232 da Trade Expansion Act de 1962 tem ganhado destaque como instrumento central da política comercial norte-americana. Criada originalmente para proteger a segurança nacional, a norma autoriza o presidente dos Estados Unidos a impor restrições a produtos importados sempre que investigações conduzidas pelo Departamento de Comércio apontarem riscos nesse sentido.
Os Estados Unidos vêm expandindo o escopo de produtos sujeitos a medidas setoriais com base em investigações de segurança nacional. Em 2024, essa parcela das exportações somou US$ 5,2 bilhões, o equivalente à 12,3% da pauta exportadora. Entre as medidas em vigor, aço e alumínio é a mais representativa, com participação de 8,7%, seguido de veículos e autopeças (3,0%) e cobre (0,6%).


4. Quais tarifas adicionais se aplicam ao seu produto?
A CNI elaborou infográfico sobre as medidas comerciais dos EUA que afetam as exportações brasileiras, de forma que o setor empresarial pode consultar se produto exportado está isento ou sobretaxado. Conforme o passo a passo do infográfico, é possível consultar as listas de produtos submetidos ou isentos às medidas comerciais e, portanto, identificar a tarifa adicional aplicada à determinado produto.

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