Trégua na moda: Os planos da Azzas para se tornar a "LVMH dos trópicos"
- sindivestedesign
- 21 de jul.
- 4 min de leitura

Com novo chairman peso-pesado, Azzas 2154 - dona de 25 marcas de moda, como Arezzo, Animale, Schutz, Farm, Hering, Reserva, Vans
Alexandre Birman e Roberto Jatahy sentaram terça-feira, 16. O sol no
inverno paulistano iluminava o destile da coleção de verão 2026 da marca Maria Filó na árca externa do late Clube de Santos, enquanto os sócios bem-humorados - rindo, trocando abraços e elogios exibiam em público a trégua recente, conquistada depois de meses de tensão.
´´O primeiro ano é realmente muito desafiador. Até brinco: é como se fossem dois solteirões de só anos bem sucedidos que resolvem se casar."
Até poucos dias antes, a história era outra. Mas, no fim de junho, depois de meses de turbulência, os sócios da Azzas 2154 levantaram a bandeira branca. Reorganizaram a governança, redesenharam o conselho e juraram que os conflitos ficaram para trás. Foram as divergências, afinal, um dos motivos que derrubaram as ações do grupo de R$ 49.54 em 1.° de agosto de 2024 data da fusão para R$ 21,5 cm 14 de março, o pior momento da empresa de capital aberto - uma queda de 57% entre os dois momentos. "O inicio foi difícil, teve excesso de proteção, o que nos levou a não ter a visão mais colaborativa desde o começo", admite Birman, CEO da Arezzo&-Co. Jatahy, CEO do Grupo Soma, completa: "Era muito advogado que bota clausula para cá, cláusula para lá". Na visão dele, em uma sociedade, o contrato é feito para ser guardado na gaveta. "Depois, a gente vai trocando, negociando. Alexandre me ajuda aqui. Roberto me ajuda ali. Isso que é importante, porque sociedade é um relacionamento."
Mas relacionamento entre gigantes não é simples. Jatahy confessa que eles não estavam
acostumados a dividir a tomada de decisão. "Viemos de empresas familiares, com conselhos muitas vezes consultivos. A Arezzo abriu o capital em 2011, então já tinha uma governança mais evoluída. Mas o Soma, abriu em 2020, e cu estava acostumado a decidir de forma mais solitária."
Os sócios dizem que foi um processo de adaptação e de rever crenças de mais de 30 anos de carreira. "Toda fusão é difícil. Nos dois primeiros anos o barco chacoalha. Duas empresas se unem e uma nova cultura surge. Não é mais o Soma, nem a Arezzo", explica Jatahy. Eles defendem que as divergências na companhia foram dentro da normalidade. "Sabe qual o problema? A moda é muita midiática", comenta o criador do Soma. "O Jorge Paulo Lemann, quando já comandava o Banco Garantia, virou sócio da Richards. E as pessoas começaram a pará-lo na rua por isso. A Richards desse tamaninho."
A garantia de que o Grupo Azzas dará certo, diz Birman, vem do legado familiar. "Nós temos uma responsabilidade perante os nossos sócios, mas principalmente com as nossas famílias que confiaram em nós. Não tem nenhum fundo de investimento por trás."
Não ter um fundo, na avaliação de Birman, é o diferencial do grupo. "Todos os outros conglomerados de moda que tentaram crescer no Brasil e não sucederam tinham fundos por trás." Jatahy concorda: "A indústria da moda é complexa e delicada. O mercado financeiro não está acostumado. Não é um setor em que você faz uma aquisição, manda todo mundo embora e corta gastos." O conhecimento do setor é vital.
"Nos temos uma responsabilidade perante os nossos sócios, mas principalmente com as nossas famílias, que confiaram em nós. Não tem nenhum findo de investimento por trás"
"Nascemos na moda, sabemos quais são as alavancas e quais são os perigos. O nosso negócio requer um olhar."
Isso não os afasta, deixam claro, das planilhas e da contabilidade. O anúncio no final do ano passado das quatro marcas que foram descontinuadas (Alme, Dzarm, Simples e os produtos femininos da Reserva) mostra isso - e destacam que não se arrependem. "A moda precisa de muito investimento em comunicação e marketing. Precisamos investir em branding, Mas, para isso, não há como operar com margem bruta baixa", diz Birman. O desfile da Maria Filó nesta semana é exemplo. "É um investimento intangível, mas tenho certeza de que ninguém questiona se ele tem que acontecer ou não."
"Estamos fazendo um trabalho profundo, muito bem pensado e estruturado", continua Jatahy, "mas sem destruir o posicionamento das nossas marcas. A pressa aqui pode ser muito ruim para o futuro da companhia".
É aí que entra Nicola Calicchio, novo chairman da Azzas, anunciado no último dia 30. O empresário responsável pelas fusões do Itaú Unibanco, Raia Drogasil e Hapvida NotreDame conversou com a coluna durante suas férias em Porto Cervo, na Itália. Ao fundo da ligação, ecoava a música Corcovado. "Muita calma pra pensar", cantava Tom Jobim, e Calicchio parecia seguir o conselho. "Estou muito confiante. O processo de amadurecimento aconteceu. O primeiro ano é realmente muito desafiador. Até brinco: é como se fossem dois solteirões de só anos bem sucedidos que resolvem se casar."
O empresário já havia sido convidado para entrar no conselho da companhia, que selou a fusão em agosto do ano passado, mas esperou o timing correto para arriscar colocar seu nome no projeto e assumir esse compromisso, "Agora é o momento certo. Conversei muito com eles. E eles entendem que precisam fazer o melhor para a companhia, e não o melhor para cada um individualmente."
"A indústria da moda é complexa e delicada. O mercado financeiro não está acostumado. Não é um setor em que você faz uma aquisição, manda todo mundo embora e corta gastos. O conhecimento do setor é vital"
O chairman - pragmático e focado em simplificar procedimentos - trouxe um novo rito as reuniões: nada de PowerPoint, memorandos de no máximo duas páginas e atas que não podem passar de uma folha. Os encontros duram de cinco a seis horas e terminam com apenas três prioridades. As atuais: integrar as 25 marcas, reforçar a conexão com o consumidor e definira visão para 2030.
Enquanto o plano estratégico é enxuto, a meta de Calicchio é ambiciosa: transformar a Azzas na "LVMH dos trópicos". Enquanto a primeira teve receita bruta de R$ 3,3 bilhões no 1.° trimestre com suas 25 marcas, a segunda, o maior grupo de luxo do mundo, faturou 20,3 bilhões de euros no mesmo período com suas 75 maisons. "A moda é um ótimo negócio. Em vários paises as pessoas mais ricas construíram esse património com moda - é só olhar Bernard Arnault na França e Amancio Ortega na Espanha".







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