Jovens da periferia brilham em projeto de moda do Brasília Orgulho
- sindivestedesign
- 31 de jul.
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Dentro da programação do maior festival LGBT do Brasil – o Brasília Orgulho 2025, estreia o Fashion Close, iniciativa que une moda autoral, visibilidade e representatividade de jovens criadores da periferia do Distrito Federal. A proposta integra uma extensa agenda de 30 atividades em 16 dias de evento, que neste ano tem como tema: Jovem, LGBT, Periferia, Orgulho.
Coordenado pelo publicitário Thiago Malva, o projeto propõe um concurso criativo que desdobra o espírito do festival. Três estilistas foram convidados a desenvolver looks autorais com as seis cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta – o ícone mais potente da luta LGBT por visibilidade, dignidade e igualdade. Mais do que roupas, são construções visuais que expressam identidade, ancestralidade e resistência.
A bandeira colorida, que é o ponto de partida desse projeto, foi criada para celebrar a vida em suas diferentes formas de existir, sentir e amar. Em 1978, Gilbert Baker a escolheu como um símbolo positivo, que pudesse ser reconhecido em qualquer lugar do mundo. Inspirou-se na beleza natural, na esperança após a tempestade e em sua abrangência: “É uma bandeira da natureza, do céu, de um espectro completo”, dizia.
Já o nome Fashion Close faz referência à expressão popular ‘dar um close’, usada na cultura queer para designar momentos de destaque, brilho e confiança. No contexto do projeto, o termo ganha força como protagonismo de quem cria e de quem veste. “É sobre ocupar espaços com atitude. Usar a moda como ferramenta de afirmação e transformação social. Esses jovens da periferia estão criando discursos visuais que desafiam padrões e contam histórias”, afirma Thiago Malva.

As criações ganharam forma não apenas nas mãos de seus designers, mas também no olhar sensível e engajado de Rafaela Assunção, a Rafiula. Ela recebeu toda a equipe no estúdio da agência Mega Model Centro-Oeste, onde atua como fotógrafa oficial. Rafiula tem uma trajetória marcada por fotos que humaniza, posiciona e transforma. Seu trabalho é pautado pela ética e escuta ativa que dialoga com o ativismo feminista e pautas sociais.
Além do protagonismo jovem, LGBT e periférico, o Fashion Close reforça seu compromisso com a descentralização da produção cultural do Distrito Federal. Os estilistas e modelos participantes representam seis Regiões Administrativas diferentes: Samambaia, Santa Maria, Sobradinho, Paranoá, Vicente Pires e Planaltina — todas localizadas fora do Plano Piloto.
“Essa diversidade geográfica não é casual: ela quebra a lógica centralizadora da cultura na capital, que historicamente privilegia o centro político e econômico em detrimento da rica potência criativa das chamadas cidades-satélites. Fazer moda na periferia é criar com coragem. Ao dar luz à redondeza, o projeto amplia o mapa cultural do DF, valorizando centros legítimos de criação, identidade e inovação*”, explica Thiago Malva.



No Fashion Close, cada criação vai além da costura. Os looks nascem de vivências, referências afetivas, trajetórias periféricas e histórias de resistência. E para dar ainda mais força a essas mensagens, os estilistas foram pareados com modelos que compartilham de suas lutas, sonhos e desejos de ocupar espaços com orgulho.
Esses encontros materializam o propósito do projeto: criar moda com identidade, dar close com conteúdo e ocupar espaços com orgulho e pertencimento. Cada peça conta uma história. Cada corpo, uma afirmação. Juntos, constroem um desfile visual que celebra a diversidade do Distrito Federal, especialmente aquela que pulsa nas bordas da cidade — longe dos holofotes do Plano Piloto, mas no centro da revolução cultural.

Filipe Reis, 20 anos, Sobradinho e Maitê Amahle, 22 anos, Paranoá

Formado em Design de Moda com a ajuda do programa social Prouni, Filipe é assistente de estilo na SS Beach Wear. Sua criação é uma homenagem à ativista Marsha P. Johnson, símbolo da luta por direitos iguais. O look traz bordados elaborados, pedrarias e pompons coloridos — elementos que narram resistência e memória. “Participar do Brasília Orgulho é realizar dois sonhos: criar moda e viver minha liberdade com orgulho”, afirma Filipe.Quem veste essa história é Maitê Amahle, mulher trans, negra e modelo desde os 13 anos. Com trajetória marcada por força e representatividade, ela destaca: “Vestir o look inspirado em Marsha é como reverenciar quem lutou para que hoje eu pudesse estar aqui”.

Gregory Samuel, 19 anos, Samambaia e Bruna Cunha, 19 anos, Planaltina

Gregory é estilista e desenvolve o ‘Circuito Sustentável’ por meio de uma feira de brechós. A sua criação é inspirada no icônico álbum Lemonade, de Beyoncé, símbolo de empoderamento feminino e negro. A cor branca representa a busca por paz, enquanto a cauda multicolorida reafirma o orgulho e a diversidade. “É essencial dar espaço para pessoas periféricas na moda. Essa visibilidade é urgente”, afirma o estilista.Quem veste sua criação é Bruna Cunha, modelo em ascensão e estudante de Ciência da Computação. Apaixonada por arte, tecnologia e moda, ela traz leveza e autenticidade ao projeto: “Quero que minhas imagens transmitam verdade e emoção. Essa experiência me transforma enquanto modelo e enquanto pessoa”.

Pedro Igor, 22 anos, Santa Maria e Walteir Barbosa, 30 anos, Vicente Pires

Pedro cresceu cercado por tecidos, agulhas e linhas — uma herança familiar que hoje se traduz em moda cheia de significado. Atuando com upcycling e personalização, criou um look se transforma com fios e pedrarias coloridas numa verdadeira explosão de liberdade visual. “Trazer minha criação para um projeto como o Brasília Orgulho é fazer minha comunidade ser vista e representada”, ressalta Pedro.O modelo que veste seu look é Walteir Barbosa, personal trainer e criador de conteúdo digital. Seus vídeos dançando em campos de futebol conquistaram as redes sociais, desafiando estereótipos e mostrando que a autenticidade pode (e deve) ocupar todos os espaços — inclusive o esporte. “Eu mostro que ser gay e jogar bola são partes da mesma identidade — e nenhuma anula a outra”, comenta.

O concurso será decidido por voto popular, pelo site: https://brasiliaorgulho.lgbt e a divulgação do look preferido pelo público acontece no dia 6 de julho, às 14h, na Parada do Orgulho LGBT de Brasília, em frente ao Congresso Nacional.
O Fashion Close reafirma o compromisso do festival com a visibilidade de jovens da periferia, ampliando o debate sobre identidade de gênero, sexualidade, desigualdade social e questões raciais no contexto do Distrito Federal. Mais do que um concurso de moda, é um espaço de pertencimento e transformação.
É sobre dar close com propósito.







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