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Esquentou: varejistas de moda driblam calor no inverno e Shein no 2º tri

Com agilidade da troca de coleções e preço médio mais baixo, empresas como Guararapes, Renner e C&A, começam a acertar estratégia para lidar com os principais ventos contrários ao setor


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De abril a junho, o clima esquentou e os termômetros subiram em plena estação outono-inverno – num desvio que tem se tornando quase constante em tempos de mudanças climáticas. Mas não o suficiente para esfriar as vendas do varejo de moda.  


No segundo trimestre, a palavra para as varejistas foi agilidade. Diferentemente do último inverno, em que as temperaturas mais altas derrubaram as vendas, C&A, Riachuelo (do grupo Guararapes) e Renner conseguiram reverter o efeito climático com coleções mais “coringa”.  


“A coleção de inverno é comprada com percentual maior de importados, então compramos com mais antecedência. Mas fomos aprendendo que era mais interessante ter mais novidades ao longo dos meses de inverno. Então o pedido foi ficando mais distribuído. Também fizemos um mix com mais peças mais leves do que pesadas”, conta o CEO da C&A, Paulo Correa, em entrevista ao INSIGHT.  


A receita de vestuário saltou 13% no trimestre, chegando a R$ 1,53 bilhão, com as vendas em mesmas lojas avançando também 13%. O lucro líquido de R$ 58 milhões, desconsiderando efeito de créditos fiscais e outras receitas, ficou quase 3 vezes maior do que o valor registrado um ano antes e superou de longe as expectativas dos analistas.  

“Foi mais um trimestre operacionalmente forte da C&A, superando os concorrentes”, escreveu a equipe comandada por Luiz Guanais no BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).   


A capacidade de lidar com a mudança de cenário foi um ponto alto para os players do setor.  


A Renner, que é mais exposta à região Sul e tem lojas na Argentina e no Uruguai, teve de lidar, além da onda de calor, com as enchentes que pararam as atividades em quase todas as cidades gaúchas em maio. No período mais crítico da crise climática, cerca de 3% das lojas de todo o parque do grupo ficaram fechadas.  


As vendas do varejo cresceram 3,9%, para R$ 3,08 bilhões, com avanço de 2,7% em mesmas lojas e de 2,3% no varejo online.  


“Mesmo com um começo de segundo trimestre pressionado pelos fatores externos, conseguimos ficar acima das expectativas a partir segunda metade do trimestre, graças a um modelo mais preciso e ágil”, diz Fabio Faccio, CEO do grupo, que também é dono das marcas Youcom, Ashua e Camicado.


A companhia antecipou a estabilização do seu centro de distribuição em Cabreúva, totalmente automatizado e que passa a centralizar todo o estoque das marcas. A ideia é de que com análise de dados, a companhia consiga fazer uma gestão cada vez mais personalizada dos itens para cada loja.


“Estamos vendo crescimento de vendas com ganho de eficiência, de rentabilidade e de satisfação dos clientes. Isso porque você cria produtos que mais clientes gostam, reduzindo sobras e remarcação”, afirma o CEO.


A empresa reportou um lucro líquido 37% maior, a R$ 315 milhões. Um dos destaques, diz a equipe do Goldman Sachs, foi o avanço da margem bruta, que passou de 53,9% para 56,2%.


Ser mais certeiro nas coleções passa, também, por preços médios mais baixos. Uma adaptação não ao clima, mas a adversários tão ou mais difíceis: as plataformas cross border, como a Shein.


A taxação das compras internacionais até US$ 50 não veio exatamente como o varejo nacional deseja, mas o fim da isenção já deixou a competição mais equilibrada. Veio, também, com as mudanças de estratégia das empresas.


“Tivemos uma redução de preço médio. Nossos produtos estão mais competitivos e mais atrativos para os nossos clientes. É uma proposta de valor mais alinhada às necessidades dos nossos clientes, e os nossos estoques ainda estão menores e mais renovados”, diz Faccio.


Na empresa gaúcha o estoque ficou 3% menor de 2023 para 2024. Na C&A, os dias de estoque subiram de 115 para 119 dias, por causa dos itens de inverno. “Mas o impacto no caixa é administrável”, segundo Correa.


A Guararapes, dona da Riachuelo, também conseguiu uma redução de 24 dias dos estoques de produto acabado, o que impulsionou a melhora de 44 dias no ciclo de caixa operacional.


“Cada dia de estoque, são R$ 10 milhões de custo. Com isso, no primeiro semestre conseguimos poupar R$ 500 milhões para abater da nossa dívida”, diz André Faber, que chegou na companhia em fevereiro de 2023 com a missão de recuperar a companhia. A alavancagem caiu de 1,8 vez em junho de 2023 para 0,7 vez.


O ponto de inflexão da varejista parece ter chegado, como avaliou o time do Itaú BBA. “Os resultados, tanto de varejo quanto da financeira, superaram nossas expectativas de cima a baixo”, escreveram os analistas em relatório pós-balanço.


A companhia terminou o segundo trimestre com vendas em mesmas lojas subindo 9%. No total, as vendas ficaram 10,5%, a R$ 1,72 bilhão. A última linha de balanço passou de um prejuízo de R$ 17 milhões para um lucro de R$ 57 milhões, com destaque para a margem Ebitda, que ficou 4,3 pontos percentuais maior, a 15,5%.


“A Riachuelo cresceu 18% de volume no trimestre e cresceu o número de tickets, que é a compra de fato, em 14%. Então, isso mostra que o consumidor está aceitando o nosso produto”, diz Faber.


A companhia ficou especialmente sob os holofotes nos últimos meses ao se tornar a patrocinadora do Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris. O uniforme de abertura recebeu críticas, mas também elogios e acabou sendo eleito um dos mais bonitos por uma emissora de televisão francesa. Entre os internautas brasileiros a redenção e os louros vieram também com as camisas dos times de vôlei de quadra.


Enquanto isso, os braços financeiros das três varejistas foram fortalezas nos resultados, contrariando um ambiente macroeconômico de incertezas e juros básicos ainda elevados.

Na Guararapes, por exemplo, a Midway reportou um salto de 320% no Ebitda. Já a Realize, do grupo Renner, passou de um prejuízo de R$ 53,7 milhões para um lucro de R$ 34,8 milhões. Na C&A, o C&A Pay, criado em 2021, chegou a um lucro de R$ 10,2 milhões, mais de sete vezes maior do que o registrado um ano antes.


Cifras que reproduzem, segundo todos os executivos ouvidos pelo INSIGHT, uma política mais certeira de concessão de crédito.

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